sábado, 29 de outubro de 2011

GLÊNIO BIANCHETTI

GLÊNIO BIANCHETTI - Vaidade 
Acrílico sobre fundo sólido - 110 x 49


No último sábado, a noite chovia uma garoa que convidava enormemente ao repouso. Numa daquelas inexplicáveis variações da temperatura, outubro se vestiu de junho, e nada me pareceu mais aconchegante que o conforto do quarto e um bom filme. Um documentário sobre Bianchetti, enviado lá de Brasília, pela Darcy Gasparetto, foi a companhia mais que perfeita para a ocasião.


GLÊNIO BIANCHETTI - Equilibrista
Acrílico sobre fundo sólido - 27 x 15

GLÊNIO BIANCHETTI - Ciranda

GLÊNIO BIANCHETTI - Alongamento
110 x 49

Primeiro gostaria de realçar a qualidade do documentário, que me proporcionou grande satisfação em seus 50 minutos de duração. Com direção de Renato Barvieri e roteiro de Victor Leonard e Paulo Eduardo Barbosa, ficou tão belo e envolvente quanto toda a obra artística ali apresentada.


GLÊNIO BIANCHETTI - Arranjo
Acrílica sobre tela - 32,5 x 25,5 - 1987

GLÊNIO BIANCHETTI - Natureza morta, 2004
Acrílico sobre fundo sólido - 75 x 55

Glênio Bianchetti nasceu em Bagé, no Rio Grande do Sul, em 1928. Não tenho o menor receio em afirmar que se trata de um dos maiores artistas vivos do Brasil, com uma trajetória invejável, dono de uma produção coerente e acima de tudo consistente.


GLÊNIO BIANCHETTI - Flores roxas na praia
Acrílica sobre duratex - 76 x 55

GLÊNIO BIANCHETTI - Composição com flores
Óleo sobre tela montada sobre madeira - 220 x 160 - 1994

Fiel ao expressionismo que lhe deu fama, nunca desvinculou sua arte daquilo que mais acredita, ao compromisso social e também nacional. Os primeiros passos estão lá na década de 40, quando ao lado de Clóvis Chagas e Glauco Rodrigues, montam o chamado Grupo de Bagé, sob orientação de José Moraes. Em 1947 vai estudar no Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre e um ano depois, participa de sua primeira exposição coletiva, na Galeria de Arte do Jornal Correio do Povo.


GLÊNIO BIANCHETTI - Moça sentada
Acrílico sobre fundo sólido - 53 x 39

GLÊNIO BIANCHETTI - Mãe e filho
Acrílico sobre fundo sólido - 39 x 27

GLÊNIO BIANCHETTI - Piquenique
Acrílica sobre compensado - 160 x 110 - 1993

Os frutos mais consistentes nasceram da parceria que fez com Carlos Scliar, Vasco Prado, Danúbio Gonçalves e Glauco Rodrigues, quando fundaram em 1950 o Clube de Gravura de Porto Alegre. Foi por intermédio dessa união que diversos trabalhos seus renderam bons intercâmbios com gravadores mexicanos. Passou praticamente toda a década de 50 em atividades no sul e em 58 participou da delegação brasileira na I Bienal do México.


GLÊNIO BIANCHETTI - Garotos
Acrílica sobre madeira

GLÊNIO BIANCHETTI - Barcos - 1993

GLÊNIO BIANCHETTI - São Francisco

Um dos trechos mais marcantes do documentário e que talvez seja um dos fatos mais importantes para Bianchetti, foi a sua transferência para Brasília, em 1962. Havia um sonho, uma utopia mesmo de se formar por lá “a melhor universidade do mundo”, como disse o próprio Bianchetti. Não faltaram esforços de vários artistas e intelectuais que se estabeleceram por lá no mesmo período. Questões ideológicas, no entanto, apressaram o desligamento de vários integrantes desse corpo de sonhadores que buscavam mudar o ensino das artes no Brasil. O regime militar não poupou nenhum dos revolucionários. Após vários dias de prisão, todos se desligaram de suas atividades. Em função disso, começa a produzir tapeçarias, em 1967. Independente dessas circunstâncias, a ida para o centro oeste brasileiro, faz com que incorpore cores bem marcantes do cerrado brasileiro em suas obras.


GLÊNIO BIANCHETTI - Canto de sala
Óleo sobre tela colada sobre madeira - 110 x 110 - 1988

GLÊNIO BIANCHETTI - Lázaro
Têmpera sobre madeira - 1959 - Acervo do MARGS

GLÊNIO BIANCHETTI - Jogo do osso
Xilogravura - 1955 - Acervo do MARGS

Já em 70, retoma as atividades educativas e em 71 colabora para a criação do Museu de Arte de Brasília. Dois fatos muito significativos da década de 70: uma individual em Roma e a escolha de uma obra sua para homenagear o presidente francês Giscard d’Estaing, quando este visitou o Brasil em 78.
O artista Bianchetti sempre esteve em intensa participação na vida política do país. Na década de 80 produz cartaz para a constituinte, e se envolve ativamente na campanha pelas Diretas Já! e na campanha presidencial de 89.
Todos os reconhecimentos merecidos vieram na década de 90, com diversos prêmios, medalhas e condecorações.



                               
                           

                              

Recentemente compôs uma Via Sacra para uma igreja em Bagé, sua terra que nunca abandona. Releu o tema com sua originalidade única, representando o Cristo solitário, nos seus passos finais. Mas fez isso sem apologia à violência e em nenhuma estação representou o sangue.

Glênio Bianchetti em seu estúdio


Encerro com uma citação de Ferreira Gullar: “Não há dúvida que estamos diante de um artista em quem a vocação de pintor e a entrega sem reservas a essa vocação definem a verdade da obra. Hoje, quando o improviso se sobrepõe à busca criativa e o conceito substitui a obra propriamente dita, um artista como Glênio Bianchetti reafirma a vertente criadora que se funda na linguagem da pintura. Nela e dela nascem as imagens e os significados que constituem as vozes silenciosas desta arte milenar”.


sábado, 22 de outubro de 2011

ISABEL GUERRA

ISABEL GUERRA - Saciará sua grande sede sempre sentida?
Óleo sobre tela

A reclusão e o distanciamento podem provocar reações absurdas em grande parte dos humanos. Há, porém, os que fazem dessa atividade um momento de aprimoramento e possibilidade de se conhecerem melhor. Isabel Guerra, pintora espanhola da cidade de Madri, sabe muito bem conviver com isso. Ela vive atualmente em clausura, no Monastério de Santa Lucía, da Ordem Cistercience, em Zaragoza. De três em três anos, expõe toda sua produção em Madri, executada nesses momentos de isolamento, os quais parecem lhe fazer muito bem.

ISABEL GUERRA - Matando a sede
Óleo sobre tela

ISABEL GUERRA - Jovem ao sol
Óleo sobre tela

Autodidata, iniciou-se nas artes ainda bem cedo, aos 12 anos de idade. Aos 23 iniciou-se na vida monástica, e desde esse período, o que se vê em suas obras é um constante louvor à vida e ao seu criador. Como ela mesma gosta de afirmar, “pintar e amar a Deus” se completam. A temática quase geral de suas obras gira em torno da figura humana, geralmente jovens e adolescentes em atitudes serenas e repousantes. Para ela, é na juventude que assimilamos toda a esperança. Ela também é uma exímia pintora de naturezas mortas e raramente executa paisagens.

ISABEL GUERRA - Descanso sobre o feno
Óleo sobre tela

ISABEL GUERRA - Com o coração na essência
Óleo sobre tela

Considerada uma das mais competentes hiperrealistas contemporâneas da Espanha, é uma acadêmica de honra da Real Academia de Belas Artes de San Luis e também acadêmica correspondente da Real Academia de Belas Artes e Ciências Históricas de Toledo. O uso singular da luz em suas composições lhe trouxe comparações com os trabalhos do holandês Vermeer.

ISABEL GUERRA - Paisagem de outono
Óleo sobre tela

Também é autora de livros. Toda sua produção, escritos e pinturas, são aguardados com ansiedade nas raras incursões públicas que realiza.

ISABEL GUERRA - Pintra
Óleo sobre tela

ISABEL GUERRA - Época de florada
Óleo sobre tela

A rotina de Isabel Guerra se baseia em: levanta às cinco da manhã. Depois de quatro horas de oração, às nove e meia, começa seu trabalho diário no ateliê de pintura. Certamente é a única atividade que a diferencia da rotina das demais religiosas do mosteiro, já que estas se dedicam na restauração de livros antigos. Esse aparente isolamento “sereno” ameniza as preocupações da vida terrena. Para Isabel, o mundo há que ter esperanças, sempre. Emenda dizendo que: “a beleza sendo possível, nem tudo está perdido”. Já se tornou uma artista respeitada em seu país, ainda mais se tratando de uma terra de grandes nomes, que vão desde El Greco, Velásquez, Goya, Picasso, Dali, Miró... Um mundo masculino que se rendeu aos seus trabalhos.

ISABEL GUERRA - De teu amor brota o mundo
Óleo sobre tela

ISABEL GUERRA - Em verdes prados me recostar
Óleo sobre tela

“Minhas telas buscam ser uma carta aberta aos homens e mulheres desse tempo, cujas tumultuosas águas, formam imponente cascata que cai sobre a base estremecida desse terceiro milênio... Oxalá possam ser cartas ditadas pelo Sol, que nasce lá no alto. Um carta claramente iluminada pela luz!”

(Isabel Guerra)

Isabel Guerra e sua obra:
Retrato de Luísa Fernanda Rudi

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ANJO CAÍDO

LUÍS ROYO - Anjo caído
Arte digital - Artista espanhol

ANJO CAÍDO
(JOSÉ MARIA HONORATO - Dezembro de 2003)

Recostei em meu ombro
E aconcheguei minha vida,
Estiquei os passos
E percorri minhas veias.

Contemplei todo o nada
E andei pela fumaça;
Admirei cinzas quentes
E consultei meu silêncio.

Risquei ninhos no papel
E cocei verdades;
Aspirei música do ar
E meu coração dançou.

Toquei ventos
E banhei meus olhos;
Dei-me um sorriso
E gostei do espelho.

O chuveiro insinuava,
A noite chamava
E o lençol seduzia.

Arranjei meu dia
E conversei com o tempo.

A noite sonhou comigo!

domingo, 16 de outubro de 2011

JORGE MACIEL

JORGE MACIEL - Arranjo com hortênsias
Óleo sobre tela - 60 x 80 - 2011
Coleção Brígida de Castro

Prometi, para setembro e outubro, algumas matérias voltadas para a primavera, e é impossível falar dela sem mencionar as flores. Quero encerrar essa série com um artista mineiro da cidade de Poços de Caldas. Jovem artista, nascido em 1972, que tem nas composições florais a representação maior de seu trabalho. Há às vezes, por parte de um público especializado, um certo receio em promover trabalhos ditos mais “decorativos”, o que acho uma injustiça. Se um trabalho tem méritos para se tornar comercialmente mais vendável, é porque nele vem agregados valores que o tornam capaz para isso. Venho acompanhando a produção de Jorge Maciel há um bom tempo, e me atrai, em particular, a sua capacidade em tornar competentemente decorativos, os seus motivos florais.

JORGE MACIEL - Rosas
Óleo sobre tela - 90 x 100

JORGE MACIEL - Arranjo
Óleo sobre tela - 60 x 80

JORGE MACIEL - Vaso com diversas flores
Óleo sobre tela

Pedro Santos, um artista da cidade onde mora, quem o descobriu e o incentivou desde as primeiras atividades. Vendo alguns desenhos do pequeno Jorge, percebeu logo a queda natural que tinha para as artes. Muita perseverança por conta própria, o jovem acabou desenvolvendo um estilo bem próprio na representação de motivos florais. A inspiração vem da alma, de onde também cria suas imagens, e segundo ele próprio, está sempre à procura da harmonia com Deus e a natureza.

JORGE MACIEL - Arranjo
Óleo sobre tela - 60 x 100

JORGE MACIEL - Cesto com hortênsias
Óleo sobre tela - 50 x 70

JORGE MACIEL - Cesto com diversas flores
Óleo sobre tela - 60 x 100 

É mais um artista que sente a falta de um cenário artístico mais organizado, onde haja intercâmbio e troca de experiências entre artistas de diversos segmentos. Isso infelizmente não permite uma divulgação mais ampliada, o que considerada uma perda para todos.

JORGE MACIEL - Arranjo
Óleo sobre tela - 27 x 35

JORGE MACIEL - Rosas e gérberas em vaso de vidro
Óleo sobre tela - 60 x 100

JORGE MACIEL - Margaridas e girassóis
Óleo sobre tela

Já realizou diversas exposições, mas está envolvido recentemente com a divulgação e venda por galerias, com especial atenção para a Galeria Sérgio Longo, em São Paulo, Galeria Saint Tropez, em Campinas e a Galeria Virtual de Quadros, com vendas em um canal de leilões pela TV.
Os trabalhos de Jorge Maciel tem um apelo comercial, e isso é inegável. Com um colorido despojado, variado acima de tudo, consegue agradar leigos e entendidos do ramo. Tem uma fatura limpa e composição bem agradável.


CONTATO:
jorgemaciel2@hotmail.com