GLÊNIO BIANCHETTI - Vaidade
Acrílico sobre fundo sólido - 110 x 49
No último sábado, a noite chovia uma garoa que convidava enormemente ao repouso. Numa daquelas inexplicáveis variações da temperatura, outubro se vestiu de junho, e nada me pareceu mais aconchegante que o conforto do quarto e um bom filme. Um documentário sobre Bianchetti, enviado lá de Brasília, pela Darcy Gasparetto, foi a companhia mais que perfeita para a ocasião.
GLÊNIO BIANCHETTI - Equilibrista
Acrílico sobre fundo sólido - 27 x 15
GLÊNIO BIANCHETTI - Ciranda
GLÊNIO BIANCHETTI - Alongamento
110 x 49
Primeiro gostaria de realçar a qualidade do documentário, que me proporcionou grande satisfação em seus 50 minutos de duração. Com direção de Renato Barvieri e roteiro de Victor Leonard e Paulo Eduardo Barbosa, ficou tão belo e envolvente quanto toda a obra artística ali apresentada.
GLÊNIO BIANCHETTI - Arranjo
Acrílica sobre tela - 32,5 x 25,5 - 1987
GLÊNIO BIANCHETTI - Natureza morta, 2004
Acrílico sobre fundo sólido - 75 x 55
Glênio Bianchetti nasceu em Bagé, no Rio Grande do Sul, em 1928. Não tenho o menor receio em afirmar que se trata de um dos maiores artistas vivos do Brasil, com uma trajetória invejável, dono de uma produção coerente e acima de tudo consistente.
GLÊNIO BIANCHETTI - Flores roxas na praia
Acrílica sobre duratex - 76 x 55
GLÊNIO BIANCHETTI - Composição com flores
Óleo sobre tela montada sobre madeira - 220 x 160 - 1994
Fiel ao expressionismo que lhe deu fama, nunca desvinculou sua arte daquilo que mais acredita, ao compromisso social e também nacional. Os primeiros passos estão lá na década de 40, quando ao lado de Clóvis Chagas e Glauco Rodrigues, montam o chamado Grupo de Bagé, sob orientação de José Moraes. Em 1947 vai estudar no Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre e um ano depois, participa de sua primeira exposição coletiva, na Galeria de Arte do Jornal Correio do Povo.
GLÊNIO BIANCHETTI - Moça sentada
Acrílico sobre fundo sólido - 53 x 39
GLÊNIO BIANCHETTI - Mãe e filho
Acrílico sobre fundo sólido - 39 x 27
GLÊNIO BIANCHETTI - Piquenique
Acrílica sobre compensado - 160 x 110 - 1993
Os frutos mais consistentes nasceram da parceria que fez com Carlos Scliar, Vasco Prado, Danúbio Gonçalves e Glauco Rodrigues, quando fundaram em 1950 o Clube de Gravura de Porto Alegre. Foi por intermédio dessa união que diversos trabalhos seus renderam bons intercâmbios com gravadores mexicanos. Passou praticamente toda a década de 50 em atividades no sul e em 58 participou da delegação brasileira na I Bienal do México.
GLÊNIO BIANCHETTI - Garotos
Acrílica sobre madeira
GLÊNIO BIANCHETTI - Barcos - 1993
GLÊNIO BIANCHETTI - São Francisco
Um dos trechos mais marcantes do documentário e que talvez seja um dos fatos mais importantes para Bianchetti, foi a sua transferência para Brasília, em 1962. Havia um sonho, uma utopia mesmo de se formar por lá “a melhor universidade do mundo”, como disse o próprio Bianchetti. Não faltaram esforços de vários artistas e intelectuais que se estabeleceram por lá no mesmo período. Questões ideológicas, no entanto, apressaram o desligamento de vários integrantes desse corpo de sonhadores que buscavam mudar o ensino das artes no Brasil. O regime militar não poupou nenhum dos revolucionários. Após vários dias de prisão, todos se desligaram de suas atividades. Em função disso, começa a produzir tapeçarias, em 1967. Independente dessas circunstâncias, a ida para o centro oeste brasileiro, faz com que incorpore cores bem marcantes do cerrado brasileiro em suas obras.
GLÊNIO BIANCHETTI - Canto de sala
Óleo sobre tela colada sobre madeira - 110 x 110 - 1988
GLÊNIO BIANCHETTI - Lázaro
Têmpera sobre madeira - 1959 - Acervo do MARGS
GLÊNIO BIANCHETTI - Jogo do osso
Xilogravura - 1955 - Acervo do MARGS
Já em 70, retoma as atividades educativas e em 71 colabora para a criação do Museu de Arte de Brasília. Dois fatos muito significativos da década de 70: uma individual em Roma e a escolha de uma obra sua para homenagear o presidente francês Giscard d’Estaing, quando este visitou o Brasil em 78.
O artista Bianchetti sempre esteve em intensa participação na vida política do país. Na década de 80 produz cartaz para a constituinte, e se envolve ativamente na campanha pelas Diretas Já! e na campanha presidencial de 89.
Todos os reconhecimentos merecidos vieram na década de 90, com diversos prêmios, medalhas e condecorações.
Recentemente compôs uma Via Sacra para uma igreja em Bagé, sua terra que nunca abandona. Releu o tema com sua originalidade única, representando o Cristo solitário, nos seus passos finais. Mas fez isso sem apologia à violência e em nenhuma estação representou o sangue.
Glênio Bianchetti em seu estúdio
Encerro com uma citação de Ferreira Gullar: “Não há dúvida que estamos diante de um artista em quem a vocação de pintor e a entrega sem reservas a essa vocação definem a verdade da obra. Hoje, quando o improviso se sobrepõe à busca criativa e o conceito substitui a obra propriamente dita, um artista como Glênio Bianchetti reafirma a vertente criadora que se funda na linguagem da pintura. Nela e dela nascem as imagens e os significados que constituem as vozes silenciosas desta arte milenar”.